Produção de gergelim no Mundo e em Moçambique
O gergelim, de nome científico Sesamum indicum L., é uma cultura bastante antiga, sendo considerada uma das principais oleaginosas cultivadas em todo o mundo. África é considerado o continente de origem do gergelim, uma vez que maioria das espécies silvestres do gênero Sesamum, são encontrados lá, ao passo que na Ásia encontram-se varias variedades das espécies cultivadas. Atualmente o gergelim é cultivado em 71 países, em especial da Ásia e da África. A produção mundial é estimada em 3,16 milhões de toneladas, e, a superfície cultivada, em 6,56 milhões de hectares, com uma produtividade de 481,40 kg/ha.
Em Moçambique, o gergelim, também conhecido como Sésamo, é produzido por produtores do sector familiar e comercial principalmente nas províncias de Sofala, Manica, Tete, Zambézia, Nampula, Niassa e Cabo Delgado. Dados do último Inquérito Agrário (2020) indicam que a produção de gergelim no País, na campanha agraria 2019/20, foi de cerca de 125.000 toneladas numa área de cerca 283.900 hectares, os dados apontam para um envolvimento de cerca de 588 mil produtores. Para campanha agraria 2020/21, o gergelim, registou uma produção de cerca 291.000 toneladas.
Finalidade e Propriedades do Gergelim
A principal forma de uso do gergelim é “in natura”, e compondo os produtos da indústria alimentícia, cosmética e de panificação. A semente possui 50-60% de óleo, 20% de proteínas, 18% de carbohidratos, 5% de fibras e cálcio, fósforo, ferro, potássio, sódio, magnésio e enxofre, é um alimento rico em proteínas e sais minerais. Apesar do gergelim possuir teores e qualidade de óleo superior a soja e girassol, a sua baixa produção mundial deve-se à produtividade inferior. A causa desta situação é o baixo esforço despendido no melhoramento desta cultura.
Características Morfológicas
Com uma grande heterogeneidade, anual ou perene, em termos morfológicos o gergelim mede de 50 cm a 3 m de altura, possui caule ereto, com ou sem ramificações, com ou sem pelo, e sistema radicular pivotante. As folhas apresentam-se alternadas ou opostas, e as da parte inferior da planta adulta são mais largas e irregularmente dentadas ou lobadas, ao passo que as da parte superior são lanceoladas. As flores são completas e axilares, e variáveis de 1 a 3 por axila foliar. O fruto possui forma de uma cápsula alongada, pilosa, deiscente (que, ao atingir a maturação, abre-se e espalhando as sementes pelo chão), de 2 a 8 cm de comprimento conforme a variedade. As sementes são pequenas, mil delas pesam de 2 a 4 g dependendo da variedade, a cor das sementes possui tons que variam do branco ao preto.
Clima
A cultura de gergelim adapta-se melhor em regiões de clima tropical, subtropical e em zonas temperadas, e há grande diversidade de tipos bem adaptados a todas essas localidades. Os principais fatores climáticos que exercem influência direta no o desenvolvimento do desta cultura são: temperatura, precipitação, luminosidade e altitude. As temperaturas médias ideais para o crescimento e o desenvolvimento da planta situam-se entre 25 °C e 30 °C, incluída ai a germinação das sementes. Temperaturas abaixo de 20 °C provocam atraso na germinação, e se inferiores a 10 °C paralisam todo o metabolismo da planta levando-a à morte. Temperaturas médias de 27 °C favorecem o crescimento vegetativo, bem como a maturação dos frutos.
Por ser resistente à seca, o gergelim é muito sensível ao encharcamento do solo, a umidade do solo é benéfica à floração e à frutificação, mas chuvas intensas provocam queda das flores e acamamento das plantas. Em locais cujos períodos chuvosos são mais longos é necessário fazer ajustes na época de seu plantio, para que o excesso de chuvas não comprometa a maturação dos frutos e o rendimento da cultura.
Solos
A cultura do gergelim caracteriza-se por nível razoável de resistência às condições de baixa humidade e fertilidade do solo, nas quais é possível obter produtividades acima da média mundial. Apesar de cultivável em diversos tipos de solo, a planta atinge a plenitude em solos profundos, bem drenados e de boa fertilidade natural, francos do ponto de vista textural, desde franco-arenosos até franco argilosos. Tem preferência por solos de reação neutra, com pH próximo de 7,0. Não tolera acidez elevada, ou seja, abaixo de pH 5,5; nem alcalinidade excessiva, isto é, acima de pH 8,0; por ser uma planta extremamente sensível à salinidade, e, mais ainda, à alcalinidade, em virtude do sódio trocável que, dependendo de sua concentração, pode tornar-se tóxico ao seu metabolismo.
Adubação
A cultura de Gergelim extrai do solo quantidades elevadas de nitrogênio (N), de fósforo (P) e de potássio (K), que variam conforme a produção, o estado nutricional, a variedade. Em geral a planta precisa de 50 kg/ha de N, de 14 kg/ha de P2O5 e de 60 kg/ha de K2O para produzir 1.000 kg/ha de sementes.
Variedades e suas Características
A escolha da variedade é de grande importância para a obtenção de boa produtividade. Entretanto, é comum os produtores reutilizarem suas próprias sementes para a campanha agricola seguinte, prática essa que provoca prejuízos como: proliferação de doenças, depreciação comercial dos produtos, além de perda de produtividade e da uniformidade. As variedades de gergelim diferenciam-se por vários atributos como: altura, ciclo (de 100 a mais de 120 dias), coloração das sementes e tipo de ramificação. As variedades produtoras de sementes de cor branca, e/ou creme, são de maior valor comercial, ao passo que as pretas caracterizam-se por serem de demanda restrita, mas em ascensão no mercado externo.
Algumas das principais variedades cultivadas em Moçambique:
Variedade |
País de origem | Natureza (Natural ou GMO) | Ciclo (Dias) |
Remdimento potencial em sequeiro, sem adubação ( ton/ha) |
LINDI – mizerepane | Moçambique | Natural | 100 – 120 | 0,8 – 1,2 |
ZIADA – ORALA | Moçambique | Natural | 100 – 110 | 1,2 – 1,5 |
Nicarágua – Manetoria | Moçambique | Natural | 100 – 110 | 0,8 – 1,5 |
ALUA | Moçambique | Natural | 100 – 110 | 1,0 – 1,3 |
EX-8-Aube | Moçambique | Natural | 100 – 120 | 1,0 – 1,2 |
Fonte: IIAM, Catalogo de variedades
Preparação do Solo e Sementeira
Por propagar-se por sementes, que, por sinal, são muito pequenas, o gergelim precisa ser semeado em solo bem preparado para facilitar a emergência das plântulas, promover seu estabelecimento o mais rápido possível e evitar a competição com as plantas daninhas que prejudicam o desenvolvimento e o crescimento da cultura. O preparo do solo inicia-se com a limpeza da área, a trituração e a pré-incorporação dos resíduos vegetais com grade leve ou niveladora. A sementeira do gergelim pode ser manual ou mecanizada em conformidade com o tamanho da área e o nível tecnológico ou condições financeiras existentes. A sementeira deve ser feita em sulcos rasos contínuos, ou em covas rasas com profundidade de 1 a 2 cm.
Época de sementeira e compasso
A época de sementeira depende do ciclo da variedade e do período chuvoso da região, o importante é que não coiscida com chuvas na fase de colheita e de secagem, de modo a garantir-se a obtenção de sementes de bom padrão comercial. A incidência de chuvas sobre as cápsulas abertas provoca o enegrecimento das sementes. Para a cultivares ramificadas recomenda-se o espaçamento de 80 cm a 1 m entre fileiras, e de 20 cm entre plantas.
Para a produção de variedades não ramificadas recomenda-se o compasso de 60 a 70 cm entre linhas, e de 10 cm entre plantas. Para que a população de plantas satisfaça as recomendações de espaçamento e de densidade de plantio, que gira em torno de 100 mil plantas/ha, é necessário fazer o raleamento, ou o desbaste, mantendo-se as plantas mais vigorosas e retirando-se as excedentes.
Rotação de Culturas
Além de promover a redução de pragas e melhorar a produtividade tanto do gergelim quanto das demais culturas que entram no esquema de rotação, o sistema de rotação de culturas auxilia no controle de ervas daninhas, reduz a erosão e mantém a matéria orgânica no solo. As culturas normalmente cultivadas em rotação com o gergelim são o algodão, o milho e o feijão. Contudo, em rotação com o gergelim cultiva-se também a soja, o amendoim, a mamona e o sorgo.
Referências
BELTRÃO, N. E. de M.; FREIRE, E. C.; LIMA, E.F. Gergelincultura no trópico.
BASCONES, L.; RITAS, J. L. La nutrición mineral del ajonjolí: I. Extracción total de nutrientes. Agronomia tropical, Maracay.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Statistical Data.
IIAM, Catálogode Variedades
NAMIKI, M. The chemistry and physiological functions of sesame. Food Reviews International.
SOUCI, S. W.: FACHMANN, W.; KRAUT, H. Food composition and nutrition tables. 5th ed. London: Medpharm..