Ureia coberta com ácidos húmicos
Ureia coberta na cultura de Cana-de-açúcar
A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) é uma das principais culturas agrícolas do mundo tropical, com destaque para o Brasil e países africanos como Moçambique. A sua produção está directamente ligada à produção de açúcar, etanol e bioenergia. Um dos maiores desafios desta cultura está relacionado à eficiência no uso de nitrogénio (N), sendo a ureia a fonte nitrogenada mais usada no campo devido ao seu alto teor de N (46%) e custo acessível. No entanto, a ureia apresenta perdas significativas por volatilização, principalmente quando aplicada superficialmente e sem incorporação ao solo.
Nesse contexto, a tecnologia de adubos com inibidores ou adjuvantes, como a cobertura da ureia com ácidos húmicos, tem se mostrado promissora. Essa combinação visa melhorar a eficiência do fertilizante, potencializando a absorção de nutrientes, o desenvolvimento radicular e o crescimento da planta, além de contribuir para práticas mais sustentáveis.
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O que são Ácidos Húmicos?
Os ácidos húmicos são compostos orgânicos de alto peso molecular derivados da decomposição da matéria orgânica. Eles fazem parte da fracção húmica do húmus e são reconhecidos por sua acção bio estimulante no solo e nas plantas. Seus principais benefícios incluem:
- Melhoria na estrutura do solo;
- Aumento da capacidade de retenção de água e nutrientes;
- Estímulo à actividade microbiana benéfica;
- Estimulação do crescimento radicular e da absorção de nutrientes;
- Redução do estresse abiótico em plantas.
Quando associados à ureia, os ácidos húmicos funcionam como uma barreira protectora, diminuindo a perda de nitrogénio e favorecendo uma liberação mais lenta e eficiente.
Perdas de nitrogénio na ureia convencional
Ao aplicar a ureia no solo, ela sofre rápida hidrólise pela urease, formando amónia (NH₃), que facilmente volatiliza na presença de humidade e temperaturas elevadas. Estima-se que as perdas por volatilização podem variar de 15% a 40%, dependendo das condições de aplicação. Isso não apenas reduz a eficiência do fertilizante, mas também aumenta os custos de produção e os impactos ambientais, como a contaminação de corpos d’água e a emissão de gases de efeito estufa.
A ureia coberta com ácidos húmicos busca reduzir essas perdas, promovendo um ambiente mais favorável para a assimilação do nitrogénio pela planta.
Mecanismos de acção da ureia com ácidos húmicos
- Complexação e protecção contra a volatilização: os ácidos húmicos recobrem os grânulos de ureia, retardando a acção da urease e permitindo maior tempo de incorporação no solo.
- Melhora da absorção radicular: actuam como quelantes de nutrientes e estimulam a formação de pelos radiculares, aumentando a absorção de N, P, K, Ca, Mg e micronutrientes.
- Estímulo fisiológico: os compostos húmicos actuam como reguladores de crescimento, promovendo maior produção de clorofila, desenvolvimento foliar e fotossíntese.
- Sinergia com a microbiota do solo: favorecem a actividade de microrganismos fixadores e mineralizadores, aumentando a disponibilidade de nutrientes no solo.
Impacto no desempenho da cana-de-açúcar
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Crescimento vegetativo
Ensaios de campo e estudos controlados mostram que a cana-de-açúcar fertilizada com ureia + ácidos húmicos apresenta:
- Maior desenvolvimento de parte aérea (altura, diâmetro e número de perfilhos);
- Sistema radicular mais robusto, com maior volume e profundidade;
- Melhor vigor de crescimento nas fases iniciais da cultura.
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Aumento na produtividade
Com melhor nutrição e maior aproveitamento do N, os experimentos registaram:
- Incrementos de 10% a 20% na produtividade de colmos por hectare;
- Aumento no teor de açúcar (pol) e pureza do caldo;
- Melhora na uniformidade da lavoura, importante para mecanização.
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Sustentabilidade e economia
- Redução de perdas por volatilização, lixiviação e desnitrificação;
- Menor necessidade de re-aplicações ou correcções;
- Contribuição para agricultura regenerativa, ao favorecer a microbiota e a matéria orgânica.
Recomendações práticas
- Aplicação: a dosagem deve ser ajustada conforme análise de solo e recomendação técnica local. A aplicação em cobertura deve ser feita preferencialmente com previsão de chuva ou leve incorporação.
- Compatibilidade com outros insumos: a ureia coberta com ácidos húmicos é compatível com fosfatos, potássicos e micronutrientes, podendo ser usada em misturas.
- Momento ideal: aplicar na fase de perfilhamento e/ou em cobertura no início do desenvolvimento vegetativo.
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Considerações finais
O uso de ureia recoberta com ácidos húmicos representa uma inovação agronómica altamente eficaz para a cultura da cana-de-açúcar, ou para outras culturas especialmente em solos tropicais como os de Moçambique. Além de melhorar a eficiência no uso do nitrogénio, ela traz benefícios fisiológicos, ambientais e económicos, alinhando-se às tendências de agricultura sustentável e de alto desempenho.
Para produtores, técnicos e empresas do agro, essa tecnologia se mostra uma excelente alternativa para maximizar os resultados da lavoura com menor impacto ambiental.